Os nossos espaços, as nossas experiências.
























Horta Cá de Casa foi sendo contruída à medida que fomos adquirindo conhecimentos na área da agricultura ecológica que abrange vários métodos de como devemos lídar com o solo. A não utilização de fertilizantes sintéticos ou a não utilização de agrotóxicos são a lei, no entanto, fomos aprendendo e utilizando métodos de planeamento em permacultura, sistema jardim florestal e por fim o sistema sintrópico de Ernst Götsch.




Como tudo
começou?
Este projeto começou em 2011, na freguesia da Feteira, numa pequena área de 500m2 atrás de casa, por esse motivo que nomeamos Horta Cá de Casa.
Entre 2012 e 2019 desafiámos muitas famílias a alterar os hábitos alimentares e jovens a olhar para a agricultura biológica como um desafio para o futuro. Temos orgulho do que está feito. E temos ainda muito por fazer. Trabalhamos para que chegue o dia em que possamos dizer: missão cumprida.
Mas foi em 2020 que ocorreu a mudança, no primeiro semestre de 2020 encontrámos um terreno na freguesia de Pedro Miguel, uma mata virada a sul, protegida por uma encosta a norte, dividida por dois patamares e acompanhada por uma ribeira. No primeiro trimestre de 2021, na freguesia vizinha Praia do Almoxarife, adquirimos um terreno em pastagem. Na totalidade temos meio hectare de terreno produtivo.
No terreno de Pedro Miguel estamos a desbravar para conhecer o espaço, perceber a vida que existe nele, os espaços solares que devem ser abertos ou mantidos para depois avançarmos para um sistema de agricultura sintrópica, inspirado pelos métodos de Ernst Götsch.


Agricultura sintrópica é o termo designado a um sistema de cultivo agroflorestal baseado no conceito de sintropia - princípio contrário ao de entropia - caracterizado pela organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente.
No terreno da Praia do Almoxarife, queremos transformar aquela pastagem, num espaço bio diverso de fruta, vegetais e aromáticas.
Horta Cá de Casa tem sofrido uma evolução gradual ao longo do tempo, num processo de auto aprendizagem. Já teve terrenos certificados, atualmente, devido aquisição de novos terrenos voltámos à estaca zero do processo de certificação em modo de produção biológico.





Mas desistir não está nas nossas raízes.
Passados dez anos de desafios, experiências, falhanços e sucessos arrancamos de 500m2 para 5000m2 de terra fértil em espaços distintos com climas distintos.

Nos próximos dez anos a Horta Cá de Casa têm o desafio de transformar em grande escala o que aplicou em pequena escala nos dez anos anteriores. No entanto, desta vez, serão construídas maquetes através do design em permacultura mas também a utilização de perfis e linhas do tempo de agricultura sintrópica.

O terreno, o acesso e as invasoras.
O terreno na freguesia de Pedro Miguel, adquirido em 2020, apresentava vários desafios. O acesso estava bloqueado devido a uma quantidade significativa de árvores caídas ao longo do tempo, e uma biodiversidade de plantas invasoras, comuns na ilha, havia tomado conta de todo o espaço. No método tradicional, a abordagem mais comum seria recorrer a máquinas pesadas para limpar a área e queimar toda a vegetação. Contudo, escolhemos um caminho diferente.



Começámos por cortar todas as árvores caídas e limpar o terreno das plantas invasoras, como a lantana (Lantana camara), as canas (Arundo donax), tintureira (Phytolacca americana), rocas (Hedychium gardnerianum), fetos (Pteridium aquilinum), cana-da-índia (Canna indica), tabaqueiras (Solanum mauritianum) e os abundantes incensos (Pittosporum undulatum).

Para nós, nenhuma planta é inútil; todas têm uma função no ecossistema. Observámos cuidadosamente as características de cada espécie e o papel que poderiam desempenhar no nosso novo sistema agroflorestal. À medida que removíamos os incensos e as tabaqueiras, a luz solar começou a penetrar no terreno. Para evitar o ressurgimento de espécies indesejadas, reutilizámos materiais orgânicos: a lantana, as rocas e as canas foram usadas como cobertura do solo, enquanto os troncos dos incensos formaram as linhas de cultivo agroflorestais.



Assim, implementámos um sistema de permacultura sustentável, sem necessidade de escavações nem queimadas, criando uma compostagem direta no solo e respeitando o equilíbrio natural do espaço.

À medida que limpamos o terreno, aproveitamos para plantar e tirar partido dos nutrientes acumulados no solo durante os anos em que esteve abandonado. A decomposição natural, sem interferência humana, criou uma base rica em matéria orgânica, essencial para o desenvolvimento de um ecossistema saudável. Este solo, regenerado naturalmente, proporciona condições ideais para a introdução de novas espécies. Começámos por estabelecer cinco linhas de cultivo com uma variedade de plantas subtropicais, cuidadosamente escolhidas para se adaptarem ao sistema agroflorestal. À medida que estas linhas ficam completas, avançamos gradualmente pelo terreno, replicando o processo com os mesmos princípios. Utilizamos métodos de permacultura e agrofloresta que integram sustentabilidade, regeneração do solo e equilíbrio ambiental, garantindo a criação de um sistema produtivo e resiliente.



Devido ao microclima único deste terreno na freguesia de Pedro Miguel, e considerando os efeitos do aquecimento global e das alterações climáticas, decidimos apostar no cultivo de plantas subtropicais.
No terreno de Pedro Miguel, tínhamos à disposição uma quantidade considerável de material vegetativo, ao contrário do nosso terreno na Praia do Almoxarife, que estava dedicado à pastagem. A transição de um terreno de pastagem para a implementação dos nossos sistemas agrícolas é sempre mais desafiante devido a vários fatores: a ausência de árvores para proteger o espaço, a escassez de material vegetativo, a compactação do solo causada pelo peso das vacas e a falta de diversidade vegetal, que influencia negativamente a qualidade e a fertilidade do solo.

Planeamento e Implementação Sustentável
O terreno na Praia do Almoxarife, foi cuidadosamente planeado para integrar várias funções essenciais. Inclui uma área dedicada ao plantio, outra com canteiros para hortícolas e plantas aromáticas, e, na parte final do terreno, cerca de 900 m² serão destinados a um sistema agroflorestal composto por quatro linhas produtivas.



A primeira etapa consistiu numa observação detalhada do terreno. Estudámos os ventos predominantes, os remoinhos, os pontos quentes e frios, e a orientação norte-sul. Esta análise permitiu-nos identificar o potencial máximo do espaço e compreender como utilizá-lo de forma eficiente e sustentável.

Na segunda etapa, avançámos para o desenho permanente, definindo áreas para árvores de fruto, espaços hortícolas e sistemas agroflorestais. Após a análise da topografia do terreno, elaborámos um plano de permacultura que respeita as características naturais do espaço, promovendo a regeneração do solo e incentivando a biodiversidade.

Selecionámos cuidadosamente plantas que desempenham funções específicas: algumas protegem do vento, outras ajudam a mitigar os efeitos das chuvas intensas, e muitas oferecem podas que se transformarão em cobertura orgânica para o solo. A maioria das espécies plantadas será comestível, refletindo a nossa prioridade pela diversificação e pela promoção da biodiversidade — a base deste plano.



A terceira etapa é a execução de tudo o que foi planeado, transformando o terreno num espaço produtivo, equilibrado e sustentável.

Temos vindo a plantar uma grande variedade de árvores, incluindo castanheiros, pereiras, macieiras, ameixeiras e citrinos. Esta combinação de espécies caducas e perenes foi escolhida estrategicamente, uma vez que, no futuro, contribuirão para a criação de uma cobertura natural do solo, essencial para a sua proteção e fertilidade. Numa fase inicial, utilizámos vetiver disposto em forma de círculos para proteger os citrinos. Esses círculos foram também aproveitados para o cultivo de hortícolas, criando um sistema integrado que favorece tanto a regeneração do solo como a produtividade.